sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Sempre que podia, Belchior, durante as suas longas horas de concentração passiva, engendrava o seu infalível plano de conquista. A sua condição subserviente e falsamente bajuladora não se coadunavam com a sua sede de glória que, inevitavelmente, chegaria.
Porém, havia pormenores que o chateavam um pouco, como levantar-se cedo todas as manhãs, tomar banho, esse um dos grandes entraves à revolução, e ter de começar a respeitar os outros em locais como a praia, principalmente por não poder, a partir do momento em que era rei e senhor da situação, correr que nem um desalmado no areal e roubar as toalhas e lanches aos mais distraídos.
Outros pormenores como não poder roubar chinelos e meias fedorentas aos donos e outros objectos dos amigos destes ou de, volta e meia, fazer outras divertidas burrices próprias de um canino, começavam a fazer-lhe confusão, já que, simplesmente, não teria a possibilidade de calmamente, nos períodos de maior depressão, urinar nos locais ditos proibidos, como a sala de estar ou nos carros dos vizinhos.



Tudo isso fazia-lhe um bocado confusão. Se ser líder era isto, então, talvez preferisse continuar a ser um despreocupado escravo de luxo dos humanos.


Claro que coisas como ir cortar as unhas à força, levar vacinas dolorosas e ser tratado como um boneco animado era ligeiramente estúpido, mas talvez fosse a compensação natural de poder fornicar na rua com vários parceiros, femininos e masculinos.
Coisa inata e perfeitamente natural, achava Belchior.

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