segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Belchior, um Cidadão Descontente




Sempre achou o seu nome demasiadamente humano, mas dada a circunstância de pouco poder fazer quanto a isso, Belchior, aceitou esse baptismo caseiro como algo a levar com ligeireza. O que contava era que teria de desempenhar o seu papel social com mestria e responsabilidade.



Embora se achasse um bocado o rei da zona periférica que habitava, o nome de Belchior levava-o, constantemente, a delirar com um reino maior onde impunha comportamentos e normas, mesmo que fosse um território que teria de compartilhar com esses seres complexos e fascistas, como eram os humanos. Criaturas munidas de vícios, preconceitos e manias que só atrapalhavam o normal desempenho da espécie canina, uma raça em ascensão, nos últimos milhares de anos, e que só a sua existência, dos humanos, impediam a ascendência, tida como lógica, dos caninos ao poder.


Na última reunião, no local do costume, ao fim da rua, junto aos contentores de lixo, e antes que chegassem os humanos, os tais que eram empregados da câmara municipal e que além de os perseguirem com fins pouco claros, lhes surripiavam a sobremesa do dia, ou seja, os restos frios de refeições desses indiferentes, designados de seres humanos, Belchior impôs, junto dos seus semelhantes, o seu plano que queria como revolucionário e, essencialmente, como uma conduta que só traria aos humanos menos chatices e maiores benefícios, sempre com a premissa de as benesses canídeas serem sempre o primeiro objectivo nesse processo de pacífica insurreição.


Esta era a sua óptica de uma revolução calma e ordeira.


Até ponderou a partilha do poder, desde que eles, os famigerados humanos, não prejudicassem o processo revolucionário em curso.

3 comentários:

  1. venham os Belchior, os Baltazar, os Sebastiões e mesmo as Dalilas...

    ResponderEliminar
  2. É a doença mental do autor, PREC's feitos por cães... mas, ainda assim, menos cães que os originais elementos do PREC...

    ResponderEliminar